terça-feira, 3 de julho de 2007

METAMORFOSE DE UMA “BOA LARVA”

Imaginemos uma larva. Sempre muito bem criada, muito bem acessorada. Uma larva. Ela cresce muito exteriormente angelical. Todos pensam no exemplo de comportamento que ela manifesta. Gentil, amigável, sincera, carismática, religiosa. Não nos percamos do ponto de que ela continua uma larva. Porém, um pouco reprimida. Coisas no passado, que ficaram no passado, deixaram muitas marcas na pobre criatura. A dúvida da culpa sempre foi um fardo que ela carregava. A larva foi crescendo, crescendo. Na medida em que crescia, aumentam suas indagações internas, suas dúvidas letais, sua culpa aterrorizante. A larva se trava dentro de si. Sempre carrancuda, ela se fecha para o mundo e se acomoda no condicionado mundo de “boa criatura”. Até que ela conhece um outro ser que a encanta. Sua metodologia de vida, suas crenças são como um outro mundo, uma outra realidade, porém, muito almejada. Seria por uma certa inveja tal relacionamento? É uma possibilidade. Ainda não se perca nas palavras e lembre-se de que estamos falando sobre uma pobre e recalcada larva. O tempo passa, os relacionamentos se enfraquecem (esta é outra história a se contar). Influenciada, ela se perde no mundo devasso das responsabilidades não cumpridas. A larva toma seu primeiro tombo, se dá conta de que precisa evoluir, crescer, “deslarvalizar”. No mundo azul, no mundo capsular, ela começa a construir seu casulo. Ligeiramente, intelectualmente, verdadeiramente ela o constrói. Não tem idéia do quão necessário ele será. Em seu sono de maturidade, ela se transforma pouco a pouco. Uma nova experiência a domina. Ela se assusta, ela grita, ela chora, é tudo muito novo, a vida é muito rápida, tudo é inconstante. Mas seus sonhos e objetivos são certos. Calculados. Relatados. Pontuados. Não mais falamos da mesma larva. Aquela mesma recalcada, traumatizada. Chega a hora! Tudo a assusta! Deus socorra-a! Até que de um mau jeito, ela machuca sua pata. Tudo fica mais difícil, nada parece dar certo, nada parece ajudar. Mal sabe essa “quase-ex-larva”, que seu destino a espera. A luz ela vê pela primeira vez. Quem? A borboleta! Leve criatura, digna. Encontra a sabedoria de um mundo “descavernado”. Reluta, mas o mundo ideal a seduz, a vida sem paradigmas a encanta. Ela não será mais a mesma. Ela não é mais a mesma. Uma ressalva que não salvará ninguém neste mundo, nem mesmo a nossa nova borboleta: ao voltar para o ninho, se depara com larvas alienadas, preconceituosas, unilateralistas, neuróticas, Carismáticas, reprimidas, extremamente regradas. Essas larvas diferem em cor, posição social, religião, time, sexo, opção sexual. Não diferem, entretanto, em genoma. Coloque-se no lugar das mesmas. O que faria se a visse mudar tão radicalmente, ou ao contrário, transpassando seus radicais? “Comporte-se! Não está sendo uma boa-criatura! Não possuo mais domínio sobre você! Esse mundo subversivo te dominou? Isso não leva ninguém a nada! O que regala a vida é o sangue!”. Seria mesmo ela, prezada borboleta, que precisa de ajuda? O mundo é uma aspiração a si mesmo. Apenas aprendeu que certas regras, certos comportamentos, certas condutas não levam nada a lugar algum. Só contribuem a formar criaturas frustradas por não fazerem o que condiz a “boa ação”. Pois digo o que é de fato o bom de viver. É abrir suas asas e voar, sem pensar no que foi, no que será e no que poderia ter sido. Sem agradar a ninguém, apenas a si mesmo. É aprender a essência da vida, a essência do tempo, o valor de uma amizade. É viver com paixão, viver com prazer, viver para si, viver pelo simples fato de ter vida. Agora, não me venham dizer que “boa-conduta” é medir-se que falarei estas verdades que revoltosamente escrevo. Sou feliz, sou assim, eu simplesmente sou. Não me venha com convenções, condutas, medições, regulagens. Não se mensura o poder de uma borboleta que venceu sozinha seu desafio de sair do casulo. “Descapsulou” interiormente suas verdadeiras vontades, seu verdadeiro eu, sua verdadeira e sempre almejada maneira de ser. Vivi uma Borboleta, vivo uma borboleta, eles que não enxergam minhas asas.

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