sábado, 13 de setembro de 2008

Clarevidência

Em evidência, todo somos mensageiros dos sonhos de alguém.
Evidentemente, somos cobrados por isso.
Sonhos andantes somos, evidentemente.
Como o calendário, que carrega dentro de si todos as nossas realizações.

quinta-feira, 3 de julho de 2008

Definitivamente humano

Às vezes eu me pergunto do porquê de não conseguir mudar o passado. Não adianta, a gente o carrega por toda vida, a única diferença é saber como que ele irá nos ajudar a cometer novos erros, e não repetir os que já foram cometidos.
Eu erro. Já errei muito e me orgulho disso. Acho que os erros têm seus níveis de arrependimento de acordo com a influência que eles tiveram em outras pessoas.
Acredito que o acerto só existe pelos recomeços advindos dos erros de outrora.
Erremos, pois, mas com brandura.

sábado, 17 de maio de 2008

Acordemos

“Que lhe brote muito verde lhe visite muito novo e a lembrança da seiva não seja desta última faca enferrujada de velhice mas apenas das épocas de bons frutos” Para a amiga colorida CORTADA - H.G.
Que o meu verde seja puro, produto da luz que ilumina meus desejos e de meu eu, o qual me surpreende a cada instante; Que a visita de todos os novos me sejam presentes, me tragam lembranças e modifiquem parte de mim, porém apenas se eu consentir; A lembrança da seiva explicita cada vez mais o desabrochar de uma menina que não ama por já ser mulher; Nossa faca enferrujada foi produto das maiores necessidades do universo, água e ar. Uma busca por sempre não interrogar ações nos remeteu sempre às mesmas condutas, com as mesmas intenções. Por quê? Existe então algo de tão puro dentro de mim? As causas da ferrugem sustentam nossa vida incolor, deixando para outrem o papel de nos colorir. Que sejam elas também adubo de uma inquietante amizade, consensual e confidente. Seguimos então a via de regras, andando sempre em frente, buscando com toda voracidade nossa Dama. Ela, que virá um dia se fazendo presente, há de nos libertar de fortes normas, pois nós sozinhos não nos consentimos. Um dia, quem sabe, voltaremos para trás... Porém com toda a liberdade que teremos em caminhar. Alto... Imensamente alto. Mesmo nas pontas das tranças, cheias de encontros e desencontros, o CORTE sempre as fortificará.

Todos sempre per-feitos

Num tremor de minha existência, meus ídolos caíram de seus altares. Quebraram-se em cacos de cristal e do chão, ao meu lado, levantaram-se pessoas carnais e ensangüentadas assim como eu.

terça-feira, 13 de maio de 2008

Freimosia

Oh Chico... Meu coração bate. Não satisfeito em apenas bater O mesmo espanca minha pobre mão Quando repousada sobre meu peito. É, Chico... Meu coração me espanca.
Oh, amigo... Minha respiração dispara. Não satisfeita de tanto respirar, Quase sufoco em minha própria ansiedade. Meu ar não é suficiente, nada o é. Sim... Eu mesma me sufoco.
Ai vida... Não paro quieta. Preciso andar, mas quando vejo, Acabo correndo e correndo muito. Músculos fatigados me são prazerosos [e calmantes. Corro, mas não saio do lugar.
Meu coração espanca. Minha respiração sufoca. Minha corrida é estática. Meus desejos só aumentam, E me espancam sufocando, Não me deixando sair do lugar.
É tão bela de intensa A minha existência tão efêmera. Não quero os meus desejos... ... Eles, no entanto, são obcecados por mim.
(Suspiro)

segunda-feira, 12 de maio de 2008

Nota de Falecimento

Venho por meio deste anunciar o falecimento das maiores certezas do mundo. Não foi possível identificar a hora exata do ocorrido, mas trata-se de um acontecimento a longo prazo. Sabe-se, contudo, que a morte é de causa criminosa. Foi constatado que a ação do acusado se deu por conta de constatações, destruições e construções de teor longitudinal. Na investigação, correm boatos de que o falecimento ocorreu gerando pequenas conturbações de relacionamentos interpessoais. Vizinhos dizem ter ouvido fragmentos de discussões envolvendo o assassino. “Nós só vamos conseguir conversar quando acabarem as comparações” e “realmente, não consigo entender o porquê disso”. Amigos e familiares lidam com o fato de maneira peculiar, pois esperam que a situação se reverta, fazendo com que tudo volte a ser como antes. Porém, é notável que tal desejo torna-se praticamente impossível de se concretizar, uma vez que o certo se foi, juntamente com a certeza do mesmo. Vim, portanto, por meio deste anunciar que neste crime não há vítimas, apenas assassino. Cabe, desta forma, ao futuro julgá-lo: seja condenando, seja beneficiando o acusado.
Cabe a mim confessar... nunca estive, porém, tão livre.

Atenciosamente, Réu Confesso

sábado, 3 de maio de 2008

Ao Fluxo

Se, na incerteza de ser se dá o construir de si, certeza terei de que apenas sou o que me convém. No momento de minha construção sou a junção do que sinto no instante eterno, do que fui no meu passado-tesouro e do que serei enquanto invenção constante de viver. Sei apenas o que me cabe saber; do resto somente tenho conhecimento por conta de minha voraz curiosidade. E assim, passo sobre passo, sei que apenas vou ao meu encontro por não saber o que encontrarei na próxima eternidade. Me cabe apenas saber-me porvir.

Ao que quero apenas para querer

Sinto falta de dois braços acariciando meu corpo, arranhando delicadamente a minha derme, rasgando todo o pudor preso na minha existência. Mas como sentir falta de algo que nunca se teve de fato? Dois corpos cansados, repousando após um descobrimento mútuo. Meu corpo clama pelas mãos certas. The ones to light my fire, slowly and kind.

Acaricie então meus cabelos, com dedos de desejo e olhos de certeza. Certeza de dúvida em se saber vivente em vida. Deixe cair sobre mim um de teus braços pesados e me segure para que eu nunca mais fuja de mim. O faça puramente com a convicção de que eu, me fazendo mulher, sou apenas pimenta no ápice de seu ardor.

sexta-feira, 2 de maio de 2008

Desamante

No seio de meu desejo está você, quem sufoca todas as minhas noites, quando, sozinha, clamo seu nome sem perdão. O mundo por si só é muito triste, Dionísio; no fundo, sabes que o é. Mas em teus braços encontro uma utopia, em teus lábios está a fonte de todos os meus quereres. Juntos construímos um mundo só nosso, cheio de brilhos, cores vibrantes, cheiro de flor. Nosso único dialeto é o gozo conseqüente de nosso ardor. Nossos alimentos são seus braços, minhas pernas, nossas bocas se devorando incessantemente. E assim, desamantes amando, somos felizes por termos encontrado o Eldorado de nossa existência. Por nossos gritos, suspiros e suores, transmitiremos ao mundo acinzentado pelo real quão diferente é a vida de momentos eternos de puro desejo, comparada à brandura dos que se dizem “eu te amo”.

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

Bailarina

Com rendas, laços, bordados e batons rosados. Tranças, vestido azul-claro, lingerie delicada. Ela chegou como uma bailarina valsando, alegre, com brilho nos lábios. Com encanto, doçura e paixão, delicada ela vem acariciar o vento. Este por sua vez, em pleno gozo, sussurra aos seus ouvidos como num canto de súplica “não pare... não pare jamais”.
Serena, doce e vivaz, ela salta, pula e gira. E salta, pula e gira. Suas mãos adormecem o céu por tão gracioso acalento, tornando-o um lindo manto celeste. Seu vestido de seda azul baila sobre seu esguio corpo. Ela corre e ri como criança inventando brincadeiras novas. Seus longos cachos ruivos cegam por tanto brilho e encantam por tanta harmonia nos movimentos. Seus pés acariciam a grama verde e vistosa como uma mãe ninando seus filhos. O sol, por sua vez, engrandece seus raios sobre a dançarina, fazendo com que seus pequenos olhos amendoados sejam encobertos por pálpebras de puro leite.
A doce e meiga bailarina é apenas uma mulher que se doou para si. Ela dança por desistir de pensar no que seria se não fosse, descobriu a arte do “ser no presente”. Alguns dizem que encontrou o caminho para a felicidade.

terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

Confissão

É com muita força que maculo o espirado bloco listrado. Assim, com a ponta de meus dedos, vou rasgando a cortina dos intensos desejos. Para não falar, mas escrever, simplesmente por medo de desapontar a imagem que alheios tem de mim. Com sofreguidão, empáfios espíritos murmuram em meus ouvidos. Sempre camuflados com túnicas e máscaras, se contradizem esperando que os escute. “Do that”. “Don’t do that”. “It’s not a big deal”. “Are you crazy?” Contudo, numa grande sinfonia menor tais assombros realmente dizem o que pensam. “Je ne vous compris pas , petite fille!” Em tais momentos, só me resta afundar os desejos que me acompanham, queimar os sonhos que me embriagam. Por alguns instantes, fazer de mim uma jovem com vestidos rodados, perfume de flor, debruçada na janela da vida. Porém, mal sabem os transeuntes diurnos que na escuridão sedutora da noite, me dispo dos aparatos angelicais de jovem donzela. No apagar das luzes das casas nobres, me visto da seda translúcida da lua, me banho com o brilho incessante das estrelas e exorto os empáfios espíritos do moralismo. Nesse momento, liberto a intensidade dos desejos que escondi, e assim, je m’appelle possibilité.

Meu produto abstrativo

Meu maior medo é te ter, amor. Concretizando meu desejo, não poderei mais controlar tuas vontades. Não tendo, vens a mim no pensamento, onde sei que nunca vais me deixar. Enquanto tendo a ti terei que abster minha ansiedade, não tendo só penso nos momentos de teu amor eterno, o qual me perturba mesmo abstrato. É fácil pensar no que quero que faças enquanto não te tenho, pois só assim controlarei o que tens de fazer para que me perdoe. Não quero tua existência, amor. Pensar em te perder já me desnorteia. Portanto, continue assim utópico, amante, produto de meu eu.

domingo, 17 de fevereiro de 2008

A última carta da virgindade

Como um filho edipiano eu te quero. Quero que me possua como a última das mulheres, que no calor de nossos corpos saltitantes, venhas para meu colo encontrar seu refúgio. Que procures em meus seios o néctar do desejo, que brinque com minhas pernas como se nenhuma outra estivesse em suas mãos. Que em minha boca você procure palavas que nunca foram ditas e jamais serão. Que meus cabelos sejam apoio para os altos e baixos de nossos corpos. Que nosso suor seja produto de sons jamais escutados com tanta força, tanto clamor. Que ao final da madrugada, nossas pernas estejam entrelaçadas, dormentes e formigantes. E quando eu voltar para meu ninho, não direi uma só palavra, pois de um filho, passastes a ser o meu primeiro homem.

O meu reino de quatro paredes

Meu reino é de quatro paredes, tão belo, escuro e quente. Meu chão, só meu e tão refrescante, me acalma nos momentos descontentes. Meu trono, vermelho e macio, me mostra na janela virtual da minha vida. O possível, que tanto quero e que tanto desprezo, é inconstante como a valsa do meu viver, como meus livros brilhante e vistosos, minha música esquecida no armário, minhas fotos de passados remotos. Estes são pedaços de meu reino encantado. Meu leito é firme e macio, me abriga nos momentos de cansaço e ardor. Meus espelhos, francos e longos, mostram a mim a casca produto de meu interior. Minhas roupas nunca suficientes são como jóias e acessórios de passados esquecidos. Meus sapatos, marrons, pretos e dourados, são meus falsos pés nos territórios assombrados da selva do mundo real. Meu reino é de quatro paredes, duas portas de puro porvir; uma janela por trás da cortina, oculta. Meu reinado que abriga as minhas vontades, são nos pensamentos que descubro o mundo; os meus sonhos me alimentam para a vida. No meu reino de quatro paredes as possibilidades compõem a realeza. Os desejos governam pela rainha, a qual espera por um rei que não existe, pois nenhum nobre será digno de sua realeza.

O resto é possibilidade

Eu. Sinto como se parte de mim fsse o nada e todas as possibilidades do mundo. Como se o que me restasse ou seria a inércia ou all that life can bring to me. Decisão, impáfia. Determinação, musculação. Acomodação, solidão, o que me faz sentir viva. O resto é possibilidade. E possibilidade de mais possibilidades. Meu verbo é devir.

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

Tentativa de liberdade

Ahhhhhhhhhhhhhhhhhhhh
...
deixe-me arder sem melancias presas na garganta.
Merci!

sábado, 9 de fevereiro de 2008

O Retorno

Embora estivestes tão vazio, misterioso, velavas meu sono, ouvias meus gemidos noturnos inconscientes, espionavas o desabrochar de meu corpo nos dias de inverno. Inevitável, pois foi ter contigo, macular teu falso silêncio em tantos suspiros de histórias. Eras tu que sussurravas nas noites quentes, provocavas meu desprezo para que eu olhasse debaixo de mim. Enfim tu arrancaste o silêncio que me sufocava provar o sabor de macular tua ausência. Saliente agora estás, regozijastes a minha volta para me perder em ti, concomitantemente em mim. Tu que ao mesmo tempo sois meu reflexo, feliz me fez, pois trouxestes novamente teu reino das possibilidades para me encontrar. Tanto tempo sem nos tocarmos foi de grande valia, porém me perdoe se novamente eu te abandonar. Tu que sois meu querido confidente, nascido para o meu devir.