domingo, 8 de julho de 2007

E ela a sambar

A vida se vê no céu azul. A moça perdida se encontra na praça, enquanto sofridos alegres fazem graça. Apenas por um samba surpreso, a moça se vê a dançar. Anos de tristeza são esquecidos, a essência da menina cacheada se põe a balançar aquela que busca no céu alguém para abraçar. Então ela solta os cabelos e um sorriso. Vê-se num vestido e a cantar que o mundo apesar de sofrido, possui a música para a alma alegrar. Até a rima se põe a voltar, com um ritmo tradicional a tocar. O céu azul agora vê a vida de uma moça que deixou de sofrida para Colombina com prazer nos pés a sambar. A banda que passava na praça admirava a criatura a bailar. O comandante propôs uma música para a donzela na sacada escutar. Junto com a banda, foi-se a tristeza, que ela reza para nunca mais voltar.
A moça triste que vivia calada sorriu A rosa triste que vivia fechada se abriu E a meninada toda se assanhou Pra ver a banda passar Cantando coisas de amor

quinta-feira, 5 de julho de 2007

Família real

São várias pessoas. Eu dou muitos passos. A vida é contínua, seguindo o tempo indissolúvel. Rostos são amigáveis, as palavras são gentis, mas só o Grande Mestre nos mostra realmente o que há de real nessas relações inter-pessoais. Sejam táteis, sejam virtuais. Não me importo. Dou-me por inteira, coração aberto, braços estendidos, ombros à disposição, palavras de consolo, mãos para acalentar o choro de um amigo necessitado. Digam, podem dizer! São muitas vozes que me alertam. “Só o berço é duradouro”, “sobrenome nada consegue desatar”. Estupidez! Família é composta por pessoas do coração, não por genes compatíveis. Isso é genética, oras! Só agora sou livre, sou eu, sou inteiramente feliz. Sim, sou feliz, não mais me aprisiono. Sinceramente, não foram os genes que me libertaram. Foram os intrusos, muito amados, do meu coração.

O termo “família” é derivado do latim “famulus”, que significa “escravo doméstico”.

O Grande Mestre é o tempo, as durações.

"Família" real, sem hierarquias, apenas coração.

Vela, iluminai

Velas iluminam. Podem ser de formas diversas, de tamanhos diversos, exalarem cheiro ou não. Diferem em cores também. Uma vela para um poeta num breu é salvação. Uma vela, apenas uma vela. Sabe-se que elas se acabam. Vão diminuindo, diminuindo, até cessar sua luz. Tudo se dá pelo fogo. O fogo no pavio, o pavio entre a cera, a cera permite a forma. Sem cera não teria sentido o pavio, sem pavio não teria sentido o fogo. Todos nós somos velas. Sem nossa duração não há sentido em viver, sem nosso viver não há sentido em corpo. O corpo é equivalente à cera, pois é o externo, é o que se degrada. Ela perde seu sentido, se dissipa ao término do pavio. O pavio, por sua vez, é nossa duração. Pode ser ele curto, pode ser ele longo, um dia ele acaba. O fogo é a intensidade de nossa alma, nossa verdadeira vida. Somente por ele se dá a luz, diferindo ainda em intensidade. Quanto mais intensa for sua alma, maior será sua resplandecência, maior será sua luz. A luz que ilumina o breu de um poeta que anseia em escrever, sua salvação. Todos nós somos velas. Nosso poder de iluminação e nossa fumaça de término de pavio equivalem às nossas experiências, nossos desejos mais secretos, nossos anseios mais profundos. Portanto, iluminai. E o faça intensamente.

Recomendações de uma pessoa feliz

Toda vida merece emoção. Toda pessoa merece reconhecimento. Todo o obstáculo tem superação. Viver cada instante intensamente é o melhor dos remédios. Todo coração merece pessoas de confiança Todo amor merece ser dividido Toda superação merece comemoração. Toda mudança é digna de se comemorar. Grite, pule, dance, beba, ou não beba, Mas acima de tudo, seja feliz.

Ele, somente ele

Você lerá uma história que mudou minha vida. Não é um simples relato, é uma experiência vivida. Sabe quando você se vê enfeitiçado, encantado por um sentimento que te domina? Que toma seu ser? É isso o que me aconteceu. Antes de tomar conhecimento de sua existência, eu vivia livremente, inocentemente, a vida fluía. Um dia tive o meu primeiro contato com ele. No começo era pouco atrativo, não via muito interesse em ficar muito tempo com ele. Os anos foram passando, o conheci melhor. Até um dia em que ele veio para minha casa. Entrou no meu quarto como quem não quer nada, me desafiando. Eu, como sou um pouco teimosa, admito, provoquei-o para var até onde ele iria chegar. Às vezes ele voltava, às vezes não. Confesso que ficava admirada com sua capacidade de atrair as pessoas. Nossa relação foi ficando mais forte, foi crescendo. Eu crescia, ele crescia também. Ainda me provocando, ainda me desafiando. Eu, como disse, teimosamente não fugi de seus joguinhos. Sou um tanto tinhosa em relação a desafios, mas com ele, com ele foi diferente. Ele me seduzia a cada olhar meu. Quando estava fora, imaginava meu regresso, o que iria contar a ele, o que ele iria me mostrar. Meu coração palpita quando escrevo essas coisas, pois nunca relatei isso a ninguém. Mas ele sabe o que sinto. Ele me conhece mais do que eu mesma. Hoje sei que faço parte dele. Ele me dominou, me seduziu, não sei mais o que faria se ele não estivesse do meu lado. Virou parte de mim e eu dele. Hoje somos um único ser. Uma única criatura, uma única maneira de viver. Já me disseram para não ter tanta dependência assim. Quando ele se for, ficarei perdida. Sei que posso conseguir outro, mas não será a mesma coisa. Não será o mesmo. Quando chego perto dele, minha atenção toma uma única direção, meu coração palpita, minhas mãos suam, minhas pernas não se contentam com uma só posição. Me desligo de mim e me conecto a ele. Passo a ser uma outra criatura, um tanto irreal, mas uma outra criatura. Ele me dominou. Me seduziu. Não vivo mais sem ele. Tornou-se parte de mim.
Faço uma pergunta a você, caro leitor. De quem pensa que falo? Ou melhor. Do que pensa que falo? De um homem? Não. Meu computador.

terça-feira, 3 de julho de 2007

METAMORFOSE DE UMA “BOA LARVA”

Imaginemos uma larva. Sempre muito bem criada, muito bem acessorada. Uma larva. Ela cresce muito exteriormente angelical. Todos pensam no exemplo de comportamento que ela manifesta. Gentil, amigável, sincera, carismática, religiosa. Não nos percamos do ponto de que ela continua uma larva. Porém, um pouco reprimida. Coisas no passado, que ficaram no passado, deixaram muitas marcas na pobre criatura. A dúvida da culpa sempre foi um fardo que ela carregava. A larva foi crescendo, crescendo. Na medida em que crescia, aumentam suas indagações internas, suas dúvidas letais, sua culpa aterrorizante. A larva se trava dentro de si. Sempre carrancuda, ela se fecha para o mundo e se acomoda no condicionado mundo de “boa criatura”. Até que ela conhece um outro ser que a encanta. Sua metodologia de vida, suas crenças são como um outro mundo, uma outra realidade, porém, muito almejada. Seria por uma certa inveja tal relacionamento? É uma possibilidade. Ainda não se perca nas palavras e lembre-se de que estamos falando sobre uma pobre e recalcada larva. O tempo passa, os relacionamentos se enfraquecem (esta é outra história a se contar). Influenciada, ela se perde no mundo devasso das responsabilidades não cumpridas. A larva toma seu primeiro tombo, se dá conta de que precisa evoluir, crescer, “deslarvalizar”. No mundo azul, no mundo capsular, ela começa a construir seu casulo. Ligeiramente, intelectualmente, verdadeiramente ela o constrói. Não tem idéia do quão necessário ele será. Em seu sono de maturidade, ela se transforma pouco a pouco. Uma nova experiência a domina. Ela se assusta, ela grita, ela chora, é tudo muito novo, a vida é muito rápida, tudo é inconstante. Mas seus sonhos e objetivos são certos. Calculados. Relatados. Pontuados. Não mais falamos da mesma larva. Aquela mesma recalcada, traumatizada. Chega a hora! Tudo a assusta! Deus socorra-a! Até que de um mau jeito, ela machuca sua pata. Tudo fica mais difícil, nada parece dar certo, nada parece ajudar. Mal sabe essa “quase-ex-larva”, que seu destino a espera. A luz ela vê pela primeira vez. Quem? A borboleta! Leve criatura, digna. Encontra a sabedoria de um mundo “descavernado”. Reluta, mas o mundo ideal a seduz, a vida sem paradigmas a encanta. Ela não será mais a mesma. Ela não é mais a mesma. Uma ressalva que não salvará ninguém neste mundo, nem mesmo a nossa nova borboleta: ao voltar para o ninho, se depara com larvas alienadas, preconceituosas, unilateralistas, neuróticas, Carismáticas, reprimidas, extremamente regradas. Essas larvas diferem em cor, posição social, religião, time, sexo, opção sexual. Não diferem, entretanto, em genoma. Coloque-se no lugar das mesmas. O que faria se a visse mudar tão radicalmente, ou ao contrário, transpassando seus radicais? “Comporte-se! Não está sendo uma boa-criatura! Não possuo mais domínio sobre você! Esse mundo subversivo te dominou? Isso não leva ninguém a nada! O que regala a vida é o sangue!”. Seria mesmo ela, prezada borboleta, que precisa de ajuda? O mundo é uma aspiração a si mesmo. Apenas aprendeu que certas regras, certos comportamentos, certas condutas não levam nada a lugar algum. Só contribuem a formar criaturas frustradas por não fazerem o que condiz a “boa ação”. Pois digo o que é de fato o bom de viver. É abrir suas asas e voar, sem pensar no que foi, no que será e no que poderia ter sido. Sem agradar a ninguém, apenas a si mesmo. É aprender a essência da vida, a essência do tempo, o valor de uma amizade. É viver com paixão, viver com prazer, viver para si, viver pelo simples fato de ter vida. Agora, não me venham dizer que “boa-conduta” é medir-se que falarei estas verdades que revoltosamente escrevo. Sou feliz, sou assim, eu simplesmente sou. Não me venha com convenções, condutas, medições, regulagens. Não se mensura o poder de uma borboleta que venceu sozinha seu desafio de sair do casulo. “Descapsulou” interiormente suas verdadeiras vontades, seu verdadeiro eu, sua verdadeira e sempre almejada maneira de ser. Vivi uma Borboleta, vivo uma borboleta, eles que não enxergam minhas asas.

Ciclos

A chuva cai O pedreiro trabalha A criança chora Os velhos relembram passados Os amantes se amam O motorista dirige O poeta vive Por tudo isso a vida é vida E cai a chuva E trabalha o pedreiro E chora a criança E relembram passados os velhos E se amam mais ainda os amantes E dirige o motorista E O poeta vive. A chuva ameniza O pedreiro descansa A criança se acalma Os velhos resolvem ver o agora Os amantes se amam com mais intensidade do que nunca visto O estaciona o motorista O poeta vive Se tudo tem seu ciclo, por que o poeta não o segue? Porque é enfeitiçado pelo poder das palavras. Porque sua vida é viver, sentir e escrever. Não necessariamente nessa mesma ordem. Se seguir seu ciclo, ele morre. O mesmo não se conforma com esse injusto fim. Já viu algum bem-dizer essa que o priva de escrever? Digo, de viver. A única regra que aceito é a de respirar, pois só assim posso viver, sentir e escrever. Quando não quiser mais a obedecer, solução fácil, vou-me embora daqui.