sábado, 17 de maio de 2008

Acordemos

“Que lhe brote muito verde lhe visite muito novo e a lembrança da seiva não seja desta última faca enferrujada de velhice mas apenas das épocas de bons frutos” Para a amiga colorida CORTADA - H.G.
Que o meu verde seja puro, produto da luz que ilumina meus desejos e de meu eu, o qual me surpreende a cada instante; Que a visita de todos os novos me sejam presentes, me tragam lembranças e modifiquem parte de mim, porém apenas se eu consentir; A lembrança da seiva explicita cada vez mais o desabrochar de uma menina que não ama por já ser mulher; Nossa faca enferrujada foi produto das maiores necessidades do universo, água e ar. Uma busca por sempre não interrogar ações nos remeteu sempre às mesmas condutas, com as mesmas intenções. Por quê? Existe então algo de tão puro dentro de mim? As causas da ferrugem sustentam nossa vida incolor, deixando para outrem o papel de nos colorir. Que sejam elas também adubo de uma inquietante amizade, consensual e confidente. Seguimos então a via de regras, andando sempre em frente, buscando com toda voracidade nossa Dama. Ela, que virá um dia se fazendo presente, há de nos libertar de fortes normas, pois nós sozinhos não nos consentimos. Um dia, quem sabe, voltaremos para trás... Porém com toda a liberdade que teremos em caminhar. Alto... Imensamente alto. Mesmo nas pontas das tranças, cheias de encontros e desencontros, o CORTE sempre as fortificará.

Todos sempre per-feitos

Num tremor de minha existência, meus ídolos caíram de seus altares. Quebraram-se em cacos de cristal e do chão, ao meu lado, levantaram-se pessoas carnais e ensangüentadas assim como eu.

terça-feira, 13 de maio de 2008

Freimosia

Oh Chico... Meu coração bate. Não satisfeito em apenas bater O mesmo espanca minha pobre mão Quando repousada sobre meu peito. É, Chico... Meu coração me espanca.
Oh, amigo... Minha respiração dispara. Não satisfeita de tanto respirar, Quase sufoco em minha própria ansiedade. Meu ar não é suficiente, nada o é. Sim... Eu mesma me sufoco.
Ai vida... Não paro quieta. Preciso andar, mas quando vejo, Acabo correndo e correndo muito. Músculos fatigados me são prazerosos [e calmantes. Corro, mas não saio do lugar.
Meu coração espanca. Minha respiração sufoca. Minha corrida é estática. Meus desejos só aumentam, E me espancam sufocando, Não me deixando sair do lugar.
É tão bela de intensa A minha existência tão efêmera. Não quero os meus desejos... ... Eles, no entanto, são obcecados por mim.
(Suspiro)

segunda-feira, 12 de maio de 2008

Nota de Falecimento

Venho por meio deste anunciar o falecimento das maiores certezas do mundo. Não foi possível identificar a hora exata do ocorrido, mas trata-se de um acontecimento a longo prazo. Sabe-se, contudo, que a morte é de causa criminosa. Foi constatado que a ação do acusado se deu por conta de constatações, destruições e construções de teor longitudinal. Na investigação, correm boatos de que o falecimento ocorreu gerando pequenas conturbações de relacionamentos interpessoais. Vizinhos dizem ter ouvido fragmentos de discussões envolvendo o assassino. “Nós só vamos conseguir conversar quando acabarem as comparações” e “realmente, não consigo entender o porquê disso”. Amigos e familiares lidam com o fato de maneira peculiar, pois esperam que a situação se reverta, fazendo com que tudo volte a ser como antes. Porém, é notável que tal desejo torna-se praticamente impossível de se concretizar, uma vez que o certo se foi, juntamente com a certeza do mesmo. Vim, portanto, por meio deste anunciar que neste crime não há vítimas, apenas assassino. Cabe, desta forma, ao futuro julgá-lo: seja condenando, seja beneficiando o acusado.
Cabe a mim confessar... nunca estive, porém, tão livre.

Atenciosamente, Réu Confesso

sábado, 3 de maio de 2008

Ao Fluxo

Se, na incerteza de ser se dá o construir de si, certeza terei de que apenas sou o que me convém. No momento de minha construção sou a junção do que sinto no instante eterno, do que fui no meu passado-tesouro e do que serei enquanto invenção constante de viver. Sei apenas o que me cabe saber; do resto somente tenho conhecimento por conta de minha voraz curiosidade. E assim, passo sobre passo, sei que apenas vou ao meu encontro por não saber o que encontrarei na próxima eternidade. Me cabe apenas saber-me porvir.

Ao que quero apenas para querer

Sinto falta de dois braços acariciando meu corpo, arranhando delicadamente a minha derme, rasgando todo o pudor preso na minha existência. Mas como sentir falta de algo que nunca se teve de fato? Dois corpos cansados, repousando após um descobrimento mútuo. Meu corpo clama pelas mãos certas. The ones to light my fire, slowly and kind.

Acaricie então meus cabelos, com dedos de desejo e olhos de certeza. Certeza de dúvida em se saber vivente em vida. Deixe cair sobre mim um de teus braços pesados e me segure para que eu nunca mais fuja de mim. O faça puramente com a convicção de que eu, me fazendo mulher, sou apenas pimenta no ápice de seu ardor.

sexta-feira, 2 de maio de 2008

Desamante

No seio de meu desejo está você, quem sufoca todas as minhas noites, quando, sozinha, clamo seu nome sem perdão. O mundo por si só é muito triste, Dionísio; no fundo, sabes que o é. Mas em teus braços encontro uma utopia, em teus lábios está a fonte de todos os meus quereres. Juntos construímos um mundo só nosso, cheio de brilhos, cores vibrantes, cheiro de flor. Nosso único dialeto é o gozo conseqüente de nosso ardor. Nossos alimentos são seus braços, minhas pernas, nossas bocas se devorando incessantemente. E assim, desamantes amando, somos felizes por termos encontrado o Eldorado de nossa existência. Por nossos gritos, suspiros e suores, transmitiremos ao mundo acinzentado pelo real quão diferente é a vida de momentos eternos de puro desejo, comparada à brandura dos que se dizem “eu te amo”.