quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

Bailarina

Com rendas, laços, bordados e batons rosados. Tranças, vestido azul-claro, lingerie delicada. Ela chegou como uma bailarina valsando, alegre, com brilho nos lábios. Com encanto, doçura e paixão, delicada ela vem acariciar o vento. Este por sua vez, em pleno gozo, sussurra aos seus ouvidos como num canto de súplica “não pare... não pare jamais”.
Serena, doce e vivaz, ela salta, pula e gira. E salta, pula e gira. Suas mãos adormecem o céu por tão gracioso acalento, tornando-o um lindo manto celeste. Seu vestido de seda azul baila sobre seu esguio corpo. Ela corre e ri como criança inventando brincadeiras novas. Seus longos cachos ruivos cegam por tanto brilho e encantam por tanta harmonia nos movimentos. Seus pés acariciam a grama verde e vistosa como uma mãe ninando seus filhos. O sol, por sua vez, engrandece seus raios sobre a dançarina, fazendo com que seus pequenos olhos amendoados sejam encobertos por pálpebras de puro leite.
A doce e meiga bailarina é apenas uma mulher que se doou para si. Ela dança por desistir de pensar no que seria se não fosse, descobriu a arte do “ser no presente”. Alguns dizem que encontrou o caminho para a felicidade.

terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

Confissão

É com muita força que maculo o espirado bloco listrado. Assim, com a ponta de meus dedos, vou rasgando a cortina dos intensos desejos. Para não falar, mas escrever, simplesmente por medo de desapontar a imagem que alheios tem de mim. Com sofreguidão, empáfios espíritos murmuram em meus ouvidos. Sempre camuflados com túnicas e máscaras, se contradizem esperando que os escute. “Do that”. “Don’t do that”. “It’s not a big deal”. “Are you crazy?” Contudo, numa grande sinfonia menor tais assombros realmente dizem o que pensam. “Je ne vous compris pas , petite fille!” Em tais momentos, só me resta afundar os desejos que me acompanham, queimar os sonhos que me embriagam. Por alguns instantes, fazer de mim uma jovem com vestidos rodados, perfume de flor, debruçada na janela da vida. Porém, mal sabem os transeuntes diurnos que na escuridão sedutora da noite, me dispo dos aparatos angelicais de jovem donzela. No apagar das luzes das casas nobres, me visto da seda translúcida da lua, me banho com o brilho incessante das estrelas e exorto os empáfios espíritos do moralismo. Nesse momento, liberto a intensidade dos desejos que escondi, e assim, je m’appelle possibilité.

Meu produto abstrativo

Meu maior medo é te ter, amor. Concretizando meu desejo, não poderei mais controlar tuas vontades. Não tendo, vens a mim no pensamento, onde sei que nunca vais me deixar. Enquanto tendo a ti terei que abster minha ansiedade, não tendo só penso nos momentos de teu amor eterno, o qual me perturba mesmo abstrato. É fácil pensar no que quero que faças enquanto não te tenho, pois só assim controlarei o que tens de fazer para que me perdoe. Não quero tua existência, amor. Pensar em te perder já me desnorteia. Portanto, continue assim utópico, amante, produto de meu eu.

domingo, 17 de fevereiro de 2008

A última carta da virgindade

Como um filho edipiano eu te quero. Quero que me possua como a última das mulheres, que no calor de nossos corpos saltitantes, venhas para meu colo encontrar seu refúgio. Que procures em meus seios o néctar do desejo, que brinque com minhas pernas como se nenhuma outra estivesse em suas mãos. Que em minha boca você procure palavas que nunca foram ditas e jamais serão. Que meus cabelos sejam apoio para os altos e baixos de nossos corpos. Que nosso suor seja produto de sons jamais escutados com tanta força, tanto clamor. Que ao final da madrugada, nossas pernas estejam entrelaçadas, dormentes e formigantes. E quando eu voltar para meu ninho, não direi uma só palavra, pois de um filho, passastes a ser o meu primeiro homem.

O meu reino de quatro paredes

Meu reino é de quatro paredes, tão belo, escuro e quente. Meu chão, só meu e tão refrescante, me acalma nos momentos descontentes. Meu trono, vermelho e macio, me mostra na janela virtual da minha vida. O possível, que tanto quero e que tanto desprezo, é inconstante como a valsa do meu viver, como meus livros brilhante e vistosos, minha música esquecida no armário, minhas fotos de passados remotos. Estes são pedaços de meu reino encantado. Meu leito é firme e macio, me abriga nos momentos de cansaço e ardor. Meus espelhos, francos e longos, mostram a mim a casca produto de meu interior. Minhas roupas nunca suficientes são como jóias e acessórios de passados esquecidos. Meus sapatos, marrons, pretos e dourados, são meus falsos pés nos territórios assombrados da selva do mundo real. Meu reino é de quatro paredes, duas portas de puro porvir; uma janela por trás da cortina, oculta. Meu reinado que abriga as minhas vontades, são nos pensamentos que descubro o mundo; os meus sonhos me alimentam para a vida. No meu reino de quatro paredes as possibilidades compõem a realeza. Os desejos governam pela rainha, a qual espera por um rei que não existe, pois nenhum nobre será digno de sua realeza.

O resto é possibilidade

Eu. Sinto como se parte de mim fsse o nada e todas as possibilidades do mundo. Como se o que me restasse ou seria a inércia ou all that life can bring to me. Decisão, impáfia. Determinação, musculação. Acomodação, solidão, o que me faz sentir viva. O resto é possibilidade. E possibilidade de mais possibilidades. Meu verbo é devir.

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

Tentativa de liberdade

Ahhhhhhhhhhhhhhhhhhhh
...
deixe-me arder sem melancias presas na garganta.
Merci!

sábado, 9 de fevereiro de 2008

O Retorno

Embora estivestes tão vazio, misterioso, velavas meu sono, ouvias meus gemidos noturnos inconscientes, espionavas o desabrochar de meu corpo nos dias de inverno. Inevitável, pois foi ter contigo, macular teu falso silêncio em tantos suspiros de histórias. Eras tu que sussurravas nas noites quentes, provocavas meu desprezo para que eu olhasse debaixo de mim. Enfim tu arrancaste o silêncio que me sufocava provar o sabor de macular tua ausência. Saliente agora estás, regozijastes a minha volta para me perder em ti, concomitantemente em mim. Tu que ao mesmo tempo sois meu reflexo, feliz me fez, pois trouxestes novamente teu reino das possibilidades para me encontrar. Tanto tempo sem nos tocarmos foi de grande valia, porém me perdoe se novamente eu te abandonar. Tu que sois meu querido confidente, nascido para o meu devir.