sábado, 25 de agosto de 2007

Musicalma

Música. Por ela minha alma canta e se liberta de minha casca tão mutável. Com ela renasço mesmo nunca tendo morrido.
DÓrmem todas minhas tristezas. RÉzo com um canto para a MIm nunca voltarem. FÁço isso sempre quando preciso, e SOLto um grito em LÁgrima. SIm, relaxo, renasço. DÓrmem também minhas aflições.
Enquanto repouso minhas mãos sobre o piano, descanso minha tão inquieta alma.

À Sra. Morte

A vida é um verbo. Viver. Implicitamente dá-se outro. Ser. Por tal fato, não vejo razão em dormir, vai de encontro com crenças minhas. Dormir depende de sono, o sono é um artifício da morte. Quando dormimos nada somos, não sei também se vivo. Dormir definitivamente não provém da vida, e sim da morte. O sono é traiçoeiro, nos enfeitiça com esperançosos desejos guardados profundamente. É tão poderoso que liberta os grilhões do nosso inconsciente, vence a nossa própria mente, o faz em segredo. É também teimoso! Quando nos privamos dele, castiga nosso corpo nos fazendo cansados. Alguém por um acaso gosta de sair por aí com duas olheiras gigantescas como abre-alas? A morte nos ronda se fazendo mistura no presente e no porvir, se apodera da fraqueza de nosso corpo através do verbo dormir. Porém, quando somos libertados do poder do sono, acordamos a cor dando à vida, como numa celebração ao abandono da ausência de tudo. Sim, a vida é um verbo. Então, cuidado. Seja! Apenas viva! É por isso que tento não dormir. Na madrugada vivo o intenso, como num gracejo por ludibriar a senhora do nada e do maior temor da humanidade. Rio na cara da morte, com uma xícara preta de café.

Não durmo

“Não durmo. Não durmo. Não durmo. Que grande sono em toda a cabeça e em cima dos olhos e na alma! Que grande sono em tudo exceto no poder dormir!” Insônia - Álvaro de Campos
Não há dia mais melancólico que domingo. Eu mais uma vez escrevo em prosa, quando meu objetivo é fazer versos. Lembrei de um poema de Pessoa, pois tenho sono e não durmo. Tentarei uma poesia então.
Estou com sono e não durmo. Como? Não sei. Tento fazer meu pensamento parar. Concentre-se no ventilador. Sim, pois ventilar é obrigatório. Por quê? Não sei.
Sei que não ando cumprindo muitas obrigações. Ultimamente só ando pensando Nos desejos desejados, Nos beijos não dados e roubados, Em coisas que meu pobre pai teme que aconteça.
Concentre-se no ventilador. O por quê? Estou com sono e não durmo. Culpada é a cafeína, meu vício maior depois de escrever. E eu até arrisquei pegar um cigarro. Para quê? Acender.
Como estou cansada! Lógico, estou com sono. Porém, não durmo. Até minhas paixões estão mais brandas. Isso também é preocupante. Como pode uma paixão abrandar? Culpado é o cansaço físico e mental. Preciso dormir! Para quê? Só sei que preciso.
Volto para o computador em busca de algo. Quem eu encontro? Vinícius, velho. Sarava! Sei, são demais os perigos dessa vida, principalmente àqueles que têm paixão. Nem dormir conseguem! Displicentemente voltei para a prosa.
É, bem sei que é melhor ser alegre que ser triste. Triste como Florbela. Como me identifico com essa portuguesa! Quantas vezes desejei, Depositar nos lábios, Os beijos que recebi nas mãos. Quantas vezes sonhava comigo, indagando: Meus versos inspiram almas apaixonadas?
O ventilador não tem mais nenhuma importância. Meu sono já vai indo Assim como Viviane Álamo, O que se espera, mas se teme.
Será que viramos pedras quando morremos e dormimos seu sono eterno? Seremos como pedregosas lembranças nos caminhos das pessoas, as quais pensam que já nos fomos? Grande Drummond. Casaria com você se pudesse. Voltei à prosa! Mas que coisa! A horas não passam. Estou com sono e não durmo. Por quê? Não sei. Assim como não sei porque pedras existem. E passo a noite e me perguntar e responder vagamente. Para quê? Levantar e pegar mais café.

Para os viciados

O prato está vazio e sozinho. À frente dele, o café. Devo eu buscar O que me alimenta o corpo ou O que me alimenta a alma?

Mais um anoitecer na Costa

Sábado, 21 de Julho de 2007.
Um dia comum, com um céu azuladamente claro. O Sol chega a gritar de tão esplendoroso e, como os dias, existem também os anoiteceres. Estou em frente à imensidão azul, estou na praia, estou no mar. Pensando no que sinto, indagando se veio de súbito ou se só me dei conta de tal pensamento agora. Avaliando o que sou e o que fui. O mar se expressa nesse exato momento como estou. Revolta, agitadamente instigada. Tento avistar o horizonte, mas só enxergo a mim mesma, infelizmente. As areias, tão sóbrias e pálidas, imploram pelo reconhecimento dessa grandiosidade à minha frente. Agradecem ao vento pelo aconchego tátil, elas que são tão esquecidas. Que bela é essa grandeza azul, que canta nos meus ouvidos uma canção que só os apaixonados ouvem. A revolta chega a ser suave, as ondas não se cansam de cantar. Que eu seja como essa imensidão de emoções, que com o mar eu aprenda a amar. O Sol se despede com penosos raios, os quais vejo cada vez mais amarelos, dos quais sinto cada vez mais pena. O céu vai se vestindo de negro com diamantes estrelares, à espera da tão melancólica e apaixonante Lua, a qual de tão amarela, chega a ser azul tão. Que com toda sua imensidão exprime, em cada extremidade sua, o penar sobre os que a admiram. E o Mar, que de dia se fez tão azul, se enegrece, se adormece e se recolhe, para que no final e quase ausência de madrugada, grite revoltosamente, ensurdecendo ainda mais a realidade daqueles que se amam, embalando ainda mais o sono daqueles que dormem. O culpado é o Vento que, de tão solitário, se encontra com tudo, com todas as coisas. E ainda assim é sozinho, e sempre será. À medida que o Sol se vai, a praia é dos apaixonados, sejam dos frustrados, dos esperançosos, dos em stand by, ou mesmo dos que vivem intensamente uma paixão. Como é bela a praia se despedindo do Sol. O vendo chora, fazendo a grande imensidão se manifestar, cantando uma melodia de adeus. Venho à Costa para ficar comigo mesma, não falar nada, fitar a vida, sonhar. Escuto as lamúrias do choro da menina triste, vejo a alegria sortida do menino criança, sinto a nostálgica juventude dos velhos a conversar. E eu, com uma arma tão poderosa e desastrosa no peito, a despir um por um de suas cascas, como um autor de uma obra verídica, a qual é composta apenas de almas. O Sol vai descendo tristemente, se mostrando alegremente em outro lugar, com a alegria de simplesmente estar ali. Mais um casal passa à minha frente, e a menina que chora enxuga mais uma lágrima a expressar uma lacrimosa e nostálgica inveja dos dois. Sim, são demasiado melancólicos esses escritos, mas são de extrema melancolia os cantos do mar tão azul que, por causa do vento, se despede do sol. Esse que mais uma vez se vai.