terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

Confissão

É com muita força que maculo o espirado bloco listrado. Assim, com a ponta de meus dedos, vou rasgando a cortina dos intensos desejos. Para não falar, mas escrever, simplesmente por medo de desapontar a imagem que alheios tem de mim. Com sofreguidão, empáfios espíritos murmuram em meus ouvidos. Sempre camuflados com túnicas e máscaras, se contradizem esperando que os escute. “Do that”. “Don’t do that”. “It’s not a big deal”. “Are you crazy?” Contudo, numa grande sinfonia menor tais assombros realmente dizem o que pensam. “Je ne vous compris pas , petite fille!” Em tais momentos, só me resta afundar os desejos que me acompanham, queimar os sonhos que me embriagam. Por alguns instantes, fazer de mim uma jovem com vestidos rodados, perfume de flor, debruçada na janela da vida. Porém, mal sabem os transeuntes diurnos que na escuridão sedutora da noite, me dispo dos aparatos angelicais de jovem donzela. No apagar das luzes das casas nobres, me visto da seda translúcida da lua, me banho com o brilho incessante das estrelas e exorto os empáfios espíritos do moralismo. Nesse momento, liberto a intensidade dos desejos que escondi, e assim, je m’appelle possibilité.

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