sábado, 25 de agosto de 2007

À Sra. Morte

A vida é um verbo. Viver. Implicitamente dá-se outro. Ser. Por tal fato, não vejo razão em dormir, vai de encontro com crenças minhas. Dormir depende de sono, o sono é um artifício da morte. Quando dormimos nada somos, não sei também se vivo. Dormir definitivamente não provém da vida, e sim da morte. O sono é traiçoeiro, nos enfeitiça com esperançosos desejos guardados profundamente. É tão poderoso que liberta os grilhões do nosso inconsciente, vence a nossa própria mente, o faz em segredo. É também teimoso! Quando nos privamos dele, castiga nosso corpo nos fazendo cansados. Alguém por um acaso gosta de sair por aí com duas olheiras gigantescas como abre-alas? A morte nos ronda se fazendo mistura no presente e no porvir, se apodera da fraqueza de nosso corpo através do verbo dormir. Porém, quando somos libertados do poder do sono, acordamos a cor dando à vida, como numa celebração ao abandono da ausência de tudo. Sim, a vida é um verbo. Então, cuidado. Seja! Apenas viva! É por isso que tento não dormir. Na madrugada vivo o intenso, como num gracejo por ludibriar a senhora do nada e do maior temor da humanidade. Rio na cara da morte, com uma xícara preta de café.

Nenhum comentário: